os dias (parte 2)
Tinha tudo para ser uma segunda-feira normal. Demorou a abrir os olhos; acordou preguiçoso; levantou-se com uma vontade incontrolável de voltar a se deitar e deu início ao ritual de todas as manhãs. Coisas que todo mundo segue quando se tem uma rotina. Era um homem sistemático.
Tomou seu banho, se arrumou, rapidamente tomou seu café e em menos tempo ainda já estava na garagem levando o carro em direção a rua. Buzinou duas vezes apressando sua mulher. Mulheres... Sempre demoram, sempre se atrasam e nunca estão satisfeitas, pensou consigo mesmo.
O percurso para o trabalho era curto, mas preferia fazê-lo de carro. Amava dirigir, amava velocidade. Odiava o trânsito, odiava esperar! Fosse o que fosse, carros na sua frente, idosas atravessando a rua, respostas, sua mulher pela manhã, odiava até o fato de esperar o sono chegar para dormir.
Deixou a esposa no trabalho. Ela falou qualquer coisa que ele não ouviu, lhe deu um beijo, desceu do carro calmamente (ele odiava isso também) e seguiu em frente.
Chegou ao seu trabalho, falava com as mesmas pessoas de sempre, os mesmos assuntos de sempre, os mesmos rostos de sempre. Era um homem sistemático. Sentou-se em seu lugar, ligou o computador, fingindo que não dava atenção à demora da máquina em ligar, e começou a trabalhar.
Horas depois toca o telefone de sua mesa, é sua mulher lhe convidando para almoçar. Ele argumenta que hoje é segunda-feira e que não se sente inspirado para nada num dia como esse. Depois de muito insistir ele cede e acaba indo. O mesmo restaurante em que ele a conheceu. O primeiro encontro, o primeiro beijo... Não! O beijo não foi lá. Aonde foi mesmo o primeiro beijo? Não se lembrou, mas também não se importou. "Hoje é segunda-feira!", lembrou, "e nada importa hoje".
Encaminhou-se a mesa onde estava sua mulher. Era a mesma mesa em que eles tinham estado no primeiro encontro. Era um casal sistemático. Depois de ter pedido o mesmo que ela, perguntou-a o porquê desse almoço em plena segunda, completamente fora de suas rotinas; no que ela respondeu de bate - pronto que estava grávida. Ele suou. g-r-á-v-i-d-a! Ela enfatizou. Ele tremeu. Já estava quase rasgando a toalha da mesa de tanta emoção quando ela disse que, segundo o médico, havia dois meses somente.
Sete meses de espera, calculou. Pagou a conta e retornou ao trabalho. Odiava esperar.
5 comentários:
Gosto do seu suspense.
Muito bom, degustável.
Como ninguém
rsrs...
Esperar seja o que for é terrível!!
=]
Doideira pura esse texto. Fiquei imaginando a cara do sujeito quando ela contou. Imagino os planos e as visões que passaram pela mente dele enquanto pensava nesses 7 meses de espera.
Muito bom... o texto tem um ritmo impressionante, sucessão das coisas do dia a dia... muito bom mesmo.
valeu.
Isso é pauleira!! kk
A nossa imaginação vai longe...
Abraços
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