sexta-feira, 28 de setembro de 2007

os dias (parte 4)

Noite de sexta – feira. Um bar, movimentado e fervendo de gente jovem, da lapa. Três amigos. Muitos chopes e rodadas de aperitivos depois da meia-noite. Em outra mesa, três amigas. Talvez a mesma quantidade de chopes e aperitivos. Uma das amigas não tira o olho de um dos amigos. O mais tímido e quieto dos três. O mais extrovertido vira-se para o tímido e diz:
- Ih! Cara! Olha só! Aquela gatinha ali! Te dando mole!!!
- Que? - não entende o tímido.
- Ali cara! Dá uma olhada naquela mesa. Aquela com três garotas... Viu? Então! Aquela ali ó! - aponta o extrovertido.
- Ah! Ela de repente olhou lá pra fora... - tenta desconversar o tímido.
- Não rapaz! Ela tá olhando toda hora pra você! Eu tô sacando!
- Esquece isso cara! Não quero arrumar problema por causa de mulher.
- És um pamonha mesmo, hein?!
Duas da manhã. O bar estava praticamente vazio, mas os amigos ainda estavam lá. E as amigas também.
- Agora você não pode dizer que ela tá só admirando a paisagem! Nem olhando pra outra pessoa! O bar tá vazio.
- É... Realmente.
- Não te falei?! Aí! Aposto cinquentinha como tu não tem coragem de falar com ela. – tinham o costume de sempre fazer apostas quando saíam.O tímido, ou corria ou perdia.
- Eu dobro! - aumentou o outro amigo.
- Cês tão brincando! - disse o tímido.
- Brincando nada! Vai lá! Quero ver! E tem outra... Se tu conseguir algo mais, já não vai precisar gastar do teu. Aqui... Cem reais pra terminar qualquer noite em alto estilo.
- Ah é?! – aumentou o tom o amigo tímido.
- Pois eu vou! Vou esperar só as outras amigas dela saírem de perto e eu chego junto!
- Eu duvido – falou o outro amigo
- E eu mais ainda – completou o extrovertido.
- É agora! – respondeu decididamente o tímido.

A garota, percebendo a timidez do rapaz, pediu às amigas que se afastassem. Elas levantaram-se e foram até o banheiro. Ele chegou pouco tempo depois.

- Oi.
- Oi. – respondeu a garota.
- É... Tudo bem?
- Tudo sim! E você?!
- Eu tô bem. – Totalmente sem jeito com a situação, responde o tímido.
- Senta. – pediu a garota
- E aí?!
- E aí o que?
- E aí... Você veio aqui pra...
- Ah! É que... Que... Eu percebi que você tava olhando pra mim
- Ah! Que bom que você reparou. Sinal de que não passo despercebida na multidão.
- É. – respondeu sem jeito o amigo. Afinal, ela não podia saber que foi o amigo dele que a notou.
- Mas e aí?! Só veio aqui pra dizer isso? Que me notou olhando pra você?
- Não, não... É... Você... Tem namorado?
- Terminei semana passada, ou melhor, ele terminou. É difícil a gente encontrar alguém realmente legal hoje em dia, sabe? Dois anos de namoro... Disse que cansou. Fazer o que? Até gosto dele, mas não vou ficar correndo atrás de homem né?
- É. – O tímido não tinha aonde enfiar a cara. Na verdade, não sabe nem como foi parar ali. O efeito dos chopes estava se dissipando. Era um tímido crônico. desde criança, sempre sofreu por isso.
- Você só fala “é”? Você é tímido?
- Não, não é isso. É que...
- Adoro caras tímidos, sabia?
- É?
- É sim! As mulheres gostam de caras assim... Eu acho.
- Ah... Isso é bom. Sinal de que eu ainda tenho chance de casar e ter família, né? – o tímido comentou, rindo depois da própria frase.
- Tem sim! Ainda mais bonitinho desse jeito. – ela resolveu partir pro ataque.
- Bonitinho é um feio arrumadinho... – começou o tímido a se soltar.
- Tá bom! Gatinho, bonito. Um pitel, como minha avó dizia.
- Que nada... Você que é a parte bonita de nós dois. – ele começou a gostar do papo.
- Ah! Você é um fofo. – derreteu-se a garota.
As amigas iam voltando à mesa quando viram os dois conversando em um tom animado. Decidiram sentar-se com o grupo dos amigos e assistir a cena de camarote.
- Mas então...
- Então o que?
- Vamos terminar a noite aqui? Nesse bar? Com nossos amigos de platéia?
- Não, não. Pra onde quer ir?
- Não sei... Quer dizer, na verdade sei, mas você tem que fazer o convite.
- É... Pra casa?
- Hum... Deixa eu ver... Pra casa? É, pra casa, mas não necessariamente pra dormir. Muito menos sozinha.
- Ah, entendi! Você não perde tempo né?
- É, acho que não. Assustado comigo?
- Não, não é isso...
- Ah bom!
- E aí? Tá pronta? – perguntou o tímido.
- Pra sua ou pra minha?
Passaram pela mesa onde estavam os amigos e as amigas, despediram-se de todos e partiram em direção ao apartamento dele.
Uma bela noite de amor depois, já pela manhã, ele acordou e percebeu que ela não estava mais ao seu lado. Embaixo do abajur um bilhete. Letra de mulher - pensou. Ela havia deixado o bilhete antes de sair, que dizia:

“Amei ter te conhecido! Desculpe ter saído assim, é que, por mais que não pareça, eu também sou tímida. Fiz uma aposta com as minhas amigas de que sairia com alguém ontem e acabei tendo a sorte de te encontrar. Me liga! Quero te ver mais vezes. Beijos.”

Depois disso, nunca mais fugiu de uma aposta.

8 comentários:

Anônimo disse...

mim também ser tímida...:)

Unknown disse...

Legal essa, muito boa. É real?

Arthurius Maximus disse...

É verdade. Quantas oportunidades de felicidade e sucesso não perdemos por sermos tímidos demais ou termos medo de fracassar? A vida é um eterno desconhecido, temos que nos atirar a ele e ver no que dá. Na grande maioria das vezes, a gente se dá bem.

Climão Tahiti disse...

Deram sorte, ambos os lados.

Podia ter sido um fora maravilhoso. =p

Anônimo disse...

Hahahah, os tímidos são sempre os mais divertidos!
Quando li Pitel tive que rir!!!
Adoro palavras fora de moda como pital, broto, pão... hauehae
Bjocas ;)

Pathy disse...

incrível...

Edson Bezerra disse...

Pitel foi demais! hahahahahahaha

Belo conto! Muito divertido!

Abraço

Anônimo disse...

Atualiza aí Creuzo!
Bjocas